terça-feira, 20 de março de 2018

Relacionamento Técnico-Atleta no Esporte Juvenil!


        A qualidade dos relacionamentos, incluindo a interação com o técnico, é um dos elementos do processo dinâmico do desenvolvimento de jovens no esporte, mencionados por Coté (2016). Segundo ele, existem dois modelos de liderança do técnico, a denominada Liderança Transacional e a Liderança Transformacional. O líder transacional tem as seguintes características:

-      Recompensa;

-      Punição;

-      Correção;

-       Monitora constantemente o desempenho.

O técnico transacional:

-      Fornece instrução específica do esporte;

-       Fornece feedbacks positivos;

-       Minimiza o uso da punição;

-       Evita ser negativamente influenciado por fatores contextuais (situação de jogo) (Baker, Yardley, & Côté, 2003;Chaumeton & Duda,1988; Chelladurai, 2007; Chelladurai & Riemer,1998; Cushion et al., 2012; Trudel & Gilbert, 2006; Leas & Chi, 1993; Ford, Yates, & Williams, 2010; Smith,Smoll, & Hunt, 1977; Smith & Smoll, 2007; Smith, Shoda, Cumming & Smoll, 2009)

     O líder transformacional apresenta outras, como:

-       Influência idealizada;

-       Motivação inspiradora;

-       Estímulo intellectual;

-       Consideração individualizada.

     E quando avaliado por questionários, os técnicos que capacitam, inspiram e desafiam (técnico transformacional) serão associados a resultados, como: o desempenho dos atletas, coesão, motivação e desenvolvimento pessoal. (Avolio, 1999; Bass, 1997; Callow et al., 2009; Charbonneau et al., 2001; Vella

et al. 2012; Tucker et al., 2010)

           Alguns estudos encontraram nos comportamentos dos técnicos transformacionais evidências indiretas, são eles:

1-    Observando a dinâmica das relações treinador e atleta: (e.g. Erickson., Côté, Hollenstein, & Deakin, 2011; Turnnidge, Côté, Hollenstein, & Deakin, 2014; Erickson & Côté, submitted)

2-    Estudos de Questionários: (e.g. Adie & Jowem, 2010; Amorose & Horn, 2000; Conroy, & Coatsworth, 2007; Gagné, Ryan & Bargman, 2003; Jowem & Nezlek, 2011; Lafrenière, Jowem, Vallerand, Donahue, & Lorimer, 2008; Mageau & Vallerand, 2003; PelleAer, ForAer, Vallerand & Briere, 2001)

3-    Estudos Qualitativos: (e.g., Becker, 2009; Culver & Trudel, 2000; Gould, Collins, Lauer, & Chung, 2007; Potrac, Jones, & Armour, 2002; Jowem & Meek, 2000; Vallée & Bloom, 2005).

      O técnico transformacional desenvolve os 4 I´s (do inglês Intellectual Stimulation, Idealized Influence, Inspirational Motivation and Individualized Consideration), através de alguns comportamentos específicos, tais como:

- Estimulação Intelectual: incentiva os atletas a fazerem perguntas; permite que os atletas contribuam com ideias novas e alternativas;

- Influência Idealizada: usa modos de interação consistentes e padronizados; usa um tom de intervenção positiva; demonstra crenças pessoais; modelo de comportamento pró-social;

- Motivação inspiradora: cria um clima motivacional orientado para o comando; emprega um estilo de técnico autônomo e de suporte; comunica uma visão convincente; mantém expectativas elevadas;

- Consideração individualizada: fornece feedback individualizado; reconhece as diferentes necessidades e habilidades.

De acordo com Shields e Bredemeier (2007), o esporte desenvolve moralidade a partir das interações estabelecidas com os outros, ou seja, a partir das interações estabelecidas com os colegas de equipe, adversários, e principalmente, com o treinador. Quando positivas, essas interações podem desenvolver empatia, autocontrole, disciplina, capacidade para lidar com a derrota e apoio social.

Weinberg e Gould (2017) apontam que a construção do caráter, liderança, espírito esportivo, e demais aspectos morais e sociais do esporte, não aparecem de forma mágica. São produtos de uma supervisão competente, capaz de estruturar atividades e experiências que garantam aprendizagens positivas.

A figura do treinador é considerada uma das principais fontes de supervisão de atletas, podendo influenciar diretamente a experiência obtida no esporte, e consequentemente, a moralidade (Dodge & Robertson, 2004; Paelez, 2016; Bolter & Weiss, 2013; Gonçalves, 1998).

O que observamos quando trabalhamos no esporte são os mais variados estilos de liderança e tipos de atuação de técnicos. Existem aqueles que são viciados em controle (autocráticos), mantém todos em rédea curta, os jogadores não tem espaço para pensar por si mesmos, esse estilo pode funcionar para alguns, mas pode criar problemas de relacionamento, em especial, com os mais jovens. Em contrapartida, tem aqueles que deixam rolar solto, dão total liberdade, não cobram disciplina e acham que isso ajudará nos resultados positivos. Alguns técnicos ficam à mercê das vontades (algumas vezes absurdas) de alguns jogadores (estrelas) ficando reféns deles, ao invés de liderá-los.

Como tudo na vida, o ideal é o bom senso e o caminho do meio, o técnico possibilitar um ambiente de confiança e acolhedor que permita aos seus atletas espaço para realizarem os seus potenciais, criatividade e estilo de jogo. Saber elogiar quando for merecido, e não exigir demasiadamente, completam esse modelo. Com essa atitude, ele acaba contribuindo para um bom relacionamento e uma fluidez na autoridade necessária para desenvolver um bom trabalho e a disciplina, que é um componente essencial para um líder eficaz.

 A habilidade psicológica da liderança inclui: experiência, responsabilidade, personalidade marcante, tempo e visão de jogo aliada à competência técnica e tática, e acima de tudo, o exemplo! Quando essa figura se encontra num momento bom, é capaz de contagiar e inspirar um time!