A qualidade dos relacionamentos,
incluindo a interação com o técnico, é um dos elementos do processo dinâmico do
desenvolvimento de jovens no esporte, mencionados por Coté (2016). Segundo ele,
existem dois modelos de liderança do técnico, a denominada Liderança
Transacional e a Liderança Transformacional. O líder transacional tem as
seguintes características:
- Recompensa;
- Punição;
- Correção;
- Monitora
constantemente o desempenho.
O técnico
transacional:
- Fornece
instrução específica do esporte;
- Fornece
feedbacks positivos;
- Minimiza
o uso da punição;
- Evita ser negativamente influenciado
por fatores contextuais (situação de jogo) (Baker, Yardley, & Côté, 2003;Chaumeton & Duda,1988; Chelladurai,
2007; Chelladurai & Riemer,1998; Cushion et al., 2012; Trudel &
Gilbert, 2006; Leas & Chi, 1993; Ford, Yates, & Williams, 2010;
Smith,Smoll, & Hunt, 1977; Smith & Smoll, 2007; Smith, Shoda, Cumming
& Smoll, 2009)
O
líder transformacional apresenta outras, como:
- Influência
idealizada;
- Motivação
inspiradora;
- Estímulo
intellectual;
- Consideração
individualizada.
E
quando avaliado por questionários, os técnicos que capacitam, inspiram e
desafiam (técnico transformacional) serão associados a resultados, como: o desempenho
dos atletas, coesão, motivação e desenvolvimento pessoal. (Avolio, 1999; Bass, 1997; Callow et al.,
2009; Charbonneau et al., 2001; Vella
et al. 2012; Tucker et al.,
2010)
Alguns
estudos encontraram nos comportamentos dos técnicos transformacionais
evidências indiretas, são eles:
1- Observando a dinâmica das relações treinador
e atleta: (e.g. Erickson., Côté, Hollenstein, & Deakin, 2011; Turnnidge,
Côté, Hollenstein, & Deakin, 2014; Erickson & Côté, submitted)
2- Estudos de Questionários: (e.g. Adie &
Jowem, 2010; Amorose & Horn, 2000; Conroy, & Coatsworth, 2007; Gagné,
Ryan & Bargman, 2003; Jowem & Nezlek, 2011; Lafrenière, Jowem,
Vallerand, Donahue, & Lorimer, 2008; Mageau & Vallerand, 2003;
PelleAer, ForAer, Vallerand & Briere, 2001)
3- Estudos Qualitativos: (e.g., Becker, 2009;
Culver & Trudel, 2000; Gould, Collins, Lauer, & Chung, 2007; Potrac,
Jones, & Armour, 2002; Jowem & Meek, 2000; Vallée & Bloom, 2005).
O técnico
transformacional desenvolve os 4 I´s (do inglês Intellectual Stimulation, Idealized Influence, Inspirational Motivation
and Individualized Consideration), através
de alguns comportamentos específicos, tais como:
- Estimulação Intelectual:
incentiva os atletas a fazerem perguntas; permite que os atletas contribuam com
ideias novas e alternativas;
- Influência Idealizada: usa
modos de interação consistentes e padronizados; usa um tom de intervenção
positiva; demonstra crenças pessoais; modelo de comportamento pró-social;
- Motivação inspiradora: cria um
clima motivacional orientado para o comando; emprega um estilo de técnico
autônomo e de suporte; comunica uma visão convincente; mantém expectativas
elevadas;
- Consideração individualizada:
fornece feedback individualizado; reconhece as diferentes necessidades e
habilidades.
De acordo com Shields e Bredemeier (2007), o esporte
desenvolve moralidade a partir das interações estabelecidas com os outros, ou
seja, a partir das interações estabelecidas com os colegas de equipe,
adversários, e principalmente, com o treinador. Quando positivas, essas
interações podem desenvolver empatia, autocontrole, disciplina, capacidade para
lidar com a derrota e apoio social.
Weinberg e Gould (2017) apontam que a construção do
caráter, liderança, espírito esportivo, e demais aspectos morais e sociais do
esporte, não aparecem de forma mágica. São produtos de uma supervisão
competente, capaz de estruturar atividades e experiências que garantam
aprendizagens positivas.
A figura do treinador é considerada uma das
principais fontes de supervisão de atletas, podendo influenciar diretamente a
experiência obtida no esporte, e consequentemente, a moralidade (Dodge &
Robertson, 2004; Paelez, 2016; Bolter & Weiss, 2013; Gonçalves, 1998).
O que observamos
quando trabalhamos no esporte são os mais variados estilos de liderança e tipos
de atuação de técnicos. Existem aqueles que são viciados em controle
(autocráticos), mantém todos em rédea curta, os jogadores não tem espaço para
pensar por si mesmos, esse estilo pode funcionar para alguns, mas pode criar
problemas de relacionamento, em especial, com os mais jovens. Em contrapartida,
tem aqueles que deixam rolar solto, dão total liberdade, não cobram disciplina
e acham que isso ajudará nos resultados positivos. Alguns técnicos ficam à
mercê das vontades (algumas vezes absurdas) de alguns jogadores (estrelas)
ficando reféns deles, ao invés de liderá-los.
Como tudo na vida, o
ideal é o bom senso e o caminho do meio, o técnico possibilitar um ambiente de
confiança e acolhedor que permita aos seus atletas espaço para realizarem os
seus potenciais, criatividade e estilo de jogo. Saber elogiar quando for
merecido, e não exigir demasiadamente, completam esse modelo. Com essa atitude,
ele acaba contribuindo para um bom relacionamento e uma fluidez na autoridade
necessária para desenvolver um bom trabalho e a disciplina, que é um componente
essencial para um líder eficaz.
A habilidade psicológica da liderança inclui:
experiência, responsabilidade, personalidade marcante, tempo e visão de jogo
aliada à competência técnica e tática, e acima de tudo, o exemplo! Quando essa
figura se encontra num momento bom, é capaz de contagiar e inspirar um time!