terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Reflexões sobre o Depoimento de um Tenista Infanto-juvenil!

"Se pelo menos eu pudesse jogar futebol em vez de tênis...Não gosto de esportes, mas, se sou obrigado a praticar um para agradar a meu pai, preferia que fosse futebol. Jogo três vezes por semana na escola e gosto de correr pelo gramado, sentindo o vento no meu cabelo, pedindo a bola e sabendo que o mundo não vai acabar se eu não marcar um gol. Que o destino do meu pai, da minha família, do planeta inteiro não está sobre os meus ombros. Se meu time não ganhar, a responsabilidade é da equipe inteira, e não vai haver ninguém berrando na minha orelha. Acho os esportes coletivos bem melhores.Passo entre os zagueiros, rápido, ágil, pedindo a bola e rindo com os meus amigos. Estamos juntos em busca de um objetivo comum. Somos um time. Gosto de sentir isso. Faz sentido para mim. De repente, ergo os olhos e vejo meu pai. Ele está saindo do estacionamento e caminha furioso rumo ao campo. Enquanto voltamos para casa, sem olhar para mim meu pai avisa: "Você nunca mais vai jogar futebol." Eu imploro que ele me deixe voltar a jogar. Ele berra a plenos pulmões: "Você é um tenista! Vai ser número 1 do mundo! Você vai ficar rico jogando tênis! Isso é o que foi planejado e chega de conversa!"(AGASSI, 2010)
Esse pequeno trecho que retirei da autobiografia do Agassi nos traz muitas reflexões e discussões a respeito de questões comuns quando se trata do esporte infanto-juvenil. A primeira delas é a escolha do esporte a ser praticado, muitas crianças e jovens não tem a chance de escolher a sua prática de preferência, os pais impõem a eles aquela que acham que é a melhor, ou então, a que foram frustrados. Uma das razões mais citadas em estudos para a participação no esporte é divertir-se, e muitas vezes, é a mais negligenciada. Outra razão comum é a melhora econômica e de status social e ainda a agressividade e a influência de outros, como os pais, ainda mais nesse caso em que o técnico era o pai. Fatores de stress associados ao burnout (pico do stress) em jovens aparecem na experiência desse atleta, como:
- Expectativas elevadas impostas por outros;
- Pressão dos pais;
- Amor dos outros demonstrados a base de vitórias e derrotas;
- Perfeccionismo;
- Aumento da responsabilidade;
- Medo de decepcionar as pessoas e errar;
- Nervosismo e ansiedade.
Um outro aspecto interessante citado é em relação ao esporte de modalidade coletiva, pois possibilita a divisão da responsabilidade pelo resultado, sendo menos estressante que os de modalidade individual, já que os atletas praticantes dos esportes individuais apresentam níveis mais elevados de ansiedade-traço e ansiedade-estado.
O exemplo do início da carreira de um atleta, como o Agassi, é bem mais comum do que pensamos, muitas crianças na expectativa de tornarem-se a "salvação" da sua família (incluindo-se aqui o sujeito que deu certo, o vencedor) vivenciam a mesma situação, com a ressalva de que a maioria não chega a ser número 1 do mundo em seu esporte, para poder dizer no final que valeu a pena o sacrifício passado, um alto preço pago, como no caso desse atleta, que praticou durante 29 anos um esporte do qual detestava!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Famílias Disfuncionais!

A família disfuncional é aquela cujos membros não sabem enfrentar e resolver seus problemas, por terem dificuldade de lidar com sentimentos e necessidades. Nela, os papéis são rígidos e inflexíveis, as regras, indiscutíveis, e a estrutura segue um modelo tradicional, com papéis predeterminados e a presença do bode expiatório.
Segundo John Bradshaw, há três tipos de família disfuncional: a cultual, a caótica e a corrupta, sendo que cada uma delas se divide em vários subtipos, de acordo com fatores culturais, econômicos, étnicos, religiosos e idiossincrásicos, e graus variados de disfunção. Ressalte-se que as divisões e os tipos não são estanques, pois muitas famílias disfuncionais possuem elementos de todos os tipos.
A família cultual é baseada no poder dos pais sobre os filhos, na imposição da vontade dos pais, na obediência cega, no controle constante, em limites rígidos dentro e fora da família, em deveres, obrigações e auto-sacrifício, em perfeccionismo e culpa.
A família caótica carece de estrutura, por falta de regras ou por possuir regras inconsistentes (por exemplo, pais que pregam uma coisa e fazem outra, confundindo os filhos).
A família corrupta não tem limites morais e nela se verifica abuso físico, psicológico, sexual, negligência de todo tipo, modelo de comportamento impróprio por parte de um dos pais ou de ambos (por exemplo, pai que se gaba de burlar leis, sonegar impostos, maltratar empregados, pessoas de diferente estrato social, de outras etnias ou credos religiosos; mãe excessivamente preocupada com status, bens materiais, aparência física, em detrimento de valores éticos). Nela observa-se um estranho senso de lealdade à família, que permite desrespeitar os que dela não fazem parte, os outros, os estranhos, mas onde há um código de proteção entre os membros.  Este desrespeito inclui trapaça, mentira, agressão física e, em casos graves de psicopatia, morte.
É fácil identificar os tipos de família disfuncional, eles são encontrados no consultório ou na casa vizinha. Às vezes, saltam das páginas de jornal que relatam crimes bárbaros de pais que matam filhos, netos que agridem avós e agressões inaceitáveis contra indivíduos de fora da família. Não que o distúrbio justifique o crime, mas, a cada manchete nova, pergunto-me se algumas destas tragédias não poderiam ter sido evitadas se aquelas pessoas tivessem recebido ajuda psicológica.
Vale lembrar que o desenvolvimento humano não tem fórmulas exatas. Filhos de famílias disfuncionais podem apresentar condutas adaptativas, desenvolver-se de forma ajustada e estabelecer relacionamentos saudáveis. Assim como filhos de famílias sem grandes conflitos podem desenvolver transtornos de conduta. Vários fatores concorrem para a origem dos transtornos psicológicos, como características individuais, incluindo as genéticas, e influências ambientais, mas eles não são determinantes.

Maria Cristina Ramos Britto
Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental
Tel.: (21) 9214-2023
Blog: www.psicologiaevidasaudavel.blogspot.com

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Exigências da Competição de Alto Nível!

A competição de alto nível apresenta características peculiares, e mesmo que o atleta tenha participado das categorias de base, ele não tem a garantia de atingir o esporte profissional, e, se chegar lá, de conseguir se manter. Muitos atletas, quando fazem a passagem da categoria juvenil para a adulta, tem muita dificuldade em assimilar as cobranças dos diferentes atores que participam do processo (inclui-se, aqui, comissão técnica, patrocinadores, dirigentes, mídia). Ao mesmo tempo, existe uma motivação muito forte em se dedicar à rotina de treinamento, fazendo-o superar os seus limites ao máximo para se destacar o mais rapidamente possível.
Muitos técnicos acreditam que o sucesso de um atleta depende de quatro fatores: habilidade motora; treinamento físico; treinamento mental; desejo ou energia. As percentagens destes quatro fatores devem variar de atleta para atleta e até com o mesmo atleta de jogo para jogo. Muitos psicólogos dizem que é o desejo, a paixão e a ambição que separa os maiores realizadores do resto dos competidores, até de outros com igual ou mais talento (CLARKSON, 1999).
THOMAS TUTKO[1] (citado por CLARKSON, 1999) declara que os atletas de elite querem investir em vencer. Esta direção pode ser um instrumento deles e que é proveitoso para os jogos, para o treino difícil, planejamento e criação de metas para si mesmos. Isto pode até melhorar sua maturidade e permitir que aceitem a responsabilidade quando alguma coisa dá errada. E isto pode dar a eles uma humildade que permite a aprenderem com seus próprios erros.
Para um atleta participar do ambiente esportivo, e nesse nível, realmente requer dele muita determinação (força interior capaz de levar alguém a afirmar com convicção o seu objetivo), dedicação (capacidade de se entregar a realização de um objetivo), disciplina (capacidade de seguir um método que funcione, de aprender) e desprendimento (capacidade de abandonar o que não está funcionando para aprender o novo, para conseguir um resultado melhor), os simples e eficientes 4 D´s que costumo trabalhar com eles!


[1] Fonte não citada pelo autor.